terça-feira, 5 de maio de 2009

Fantasmas



Tinha um fantasma debaixo da cama que todos os dias assombrava. Sobrenaturalmente voava com o vento frio das memórias tristes. Voava pra perto. Vinha, de longe.
Todos os dias, novamente e sempre, o desespero rondava. E a curiosidade aumentava. Proporcionalmente. Não apenas ela, pois que, visto o vulto do fantasma, a surpresa já havia há tanto se esparsado. Um amálgama disforme de talvez uma vontade perigosa de revisitar a dor.
Não sem sentido. Tento as palavras, mas elas não brilham tanto ou não são tão opacas quanto o que sinto.
Sentia medo, movido por uma leve e agradável vontade de embrenhar-me no limite do prazer já conhecido.
Um risco. Esse é o nome, quase preciso, da experiência fantasmagórica que almejava percorrer.

Um dia, como hoje... Do nada, do mais claro raio de sol, eis que uma voz lamacenta se erige. Demoro a identificar, não era a noite dos fantasmas com luz da lua cheia, nuvens no céu, música de suspense, coração acelerado e aquele temático vento frio. Não havia morcegos ou outra atmosfera.
Era dia! Tão alegre em mim, que assim o fosse! Não deixei me abater.
Levantei meu corpo, alteei a voz. Como de súbito tomado por um imenso auto-amor e segurança, não permiti o medo. Avancei. Ultrapassei o pântano e com doçura característica puxei o lençol branco.
Por debaixo, apenas uma formiga. Magra, pequena, achatável e miseravelmente sozinha.

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